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    Volta ao Mundo: como eu decidi sobre a última palestra

    21 de Agosto de 2018

    “Ontem, quando hoje era amanhã, era muito dia para mim”, diz o Ursinho Pooh (sim, é isso mesmo que você está lendo) em uma das passagens do filme Cristopher Robin – Um Reencontro Inesquecível, que aqueceu minha alma em um domingo à noite de chuva e frio. Veio ao encontro da decisão que havia tomado ao longo da semana quando recebi cerca de 60 convidados para aquela que seria a minha última palestra de volta ao mundo.

    Quando aterrissei da viagem, compreendi que eu tinha a missão de devolver ao universo as oportunidades que havia recebido. Como? Compartilhando os aprendizados que colhi ao longo de 270 dias de estrada e gritando aos quatro ventos: viagem, busquem autoconhecimento, tentem se encontrar.

    Sendo assim, formatei três tipos de palestras para acolher públicos e situações diferentes. E, pelos últimos oito meses, desde que joguei a mochila encardida no armário, realizei 12 bate-papos, com gente mais introspectiva, outros perguntadores, gente que chorou, riu, identificou-se, que me levou presente, que me pediu fotografia para registrar o momento, que estava prestes a fechar a mala para partir ou que só precisava de um empurrão para uma mudança pequena na vida.

    Não saí do Rio Grande do Sul, fiquei por aqui, entre quatro cidades, e, se você me perguntar se acho que a palestra chegou ao limite, vou lhe segredar que não. Acredito que outras tantas pessoas poderiam ser beneficiadas com um trecho ou outro do que tenho a contar. Mas precisei ser um tantinho egoísta. Vou explicar por quê.

    Com o passar do tempo, comecei a perceber que ao terminar a palestra eu ficava exausta. Demorava dois dias para me recompor, meu corpo doía inteiro e me batia um sono forte. Como se toda a energia ficasse por trás daqueles slides. O motivo era revisitar e reviver cada alto e baixo do ano mais importante que já vivi nestas três décadas. Voltava à depressão, sentia novamente a solidão, lutava para me descobrir enquanto escritora e afundava em saudades de quem eu amava para, no final, descobrir a importância de ser tolerante, empático e amável – no sentido de permitir que alguém te ame.

    E, se no início, era importantíssimo para mim essa vivência, com o virar do calendário, passou a se tornar um tanto melancólica. Como se eu ficasse incapacitada de saltar para fora do passado.

    Foi assim que decidi. Cabe a nós – só a nós – entender quando uma fase está vencida. Se permitir fechar portas e dizer alguns “nãos” em prol de “sins” ainda inexistentes é de uma força tremenda.

    Eu já havia compreendido que a palestra se tornara um produto e estava prestes a decolar. Um dia, quem sabe, ela volte – se a barca sobe, tem que descer. Mas, recentemente, estava se transformando em um poço nostálgico no qual eu não me sentia preparada para mergulhar.

    Preciso dar este check-out antes de virar um mural de lamúrias e lamentações pelo que vivi e deixar o trem do agora passar sem nem tentar subir no vagão. E aí, tomo emprestada outra frase clichê do filme de Pooh para finalizar: “A cada vez em que me afasto mais do lugar em que estava, aproximo-me mais do lugar onde quero chegar”. Que venha a nova fase. Que seja leve.

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