Caso Pugliesi: influência em tempos de pandemia

29 de Abril de 2020

Bati um papo longo com Gabriela Pugliesi há sete anos para uma matéria de capa da Revista Donna. Na época, a guria tinha 150 mil seguidores nas redes e despontava com o seu Tips4Life, um blog com dicas para manter uma vida saudável. Já era um fenômeno. Promoveu o suco verde e a tapioca. Deu força ao termo “jacar” quando saía da dieta e ganhou uma hashtag: #geraçãopugliesi. Deu um baile nas blogueiras de moda que imperavam e venceu na maratona de likes. Venceu porque criou um discurso novo à época. Trabalhou com aquela ideia de “pessoa real” que atingiu seus objetivos e mudou de vida.

Só que não deu para sustentar. Enquanto sua base de seguidores crescia freneticamente, seus deslizes e polêmicas corriam pela lateral. Os seguidores e contratantes que assistiram Gabriela irresponsavelmente furando a quarenta no sábado, são os mesmos que se decepcionaram ao descobrir as tantas propaganda veladas em posts patrocinados sem sinalização; que acompanharam a notificação do Conselho de Nutrição quando a influencer sugeriu que seguidores enviassem “nudes” para os amigos para que, quando saíssem da dieta, tivessem suas fotos divulgadas; que foi flagrada comendo bacon em uma viagem, quando se dizia vegetariana... e que ficaram!

Então, o que aconteceu? Por que o copo transbordou? Desassociação do momento. Em situações como os que vivemos, existe um fenômeno chamado transparência psíquica (me ajudem os entendidos), que descreve um estado particular do psiquismo onde fragmentos do inconsciente encontram saída facilitada à consciência. Todos estamos mais intolerantes, cansados e vulneráveis. Falta de empatia e de verdade não passam batido quando a mente está exausta. Não concordo com o linchamento virtual que levantaram contra a Pugliesi. Abrir caminho para haters e incentivar o ódio é grave. As histórias da Gabriela deixaram de ser bem contadas um pouco depois que a entrevistei, tornaram-se parágrafos soltos, sem gancho, mas eram aceitas e compradas, bem compradas. Marca contratante e seguidor também têm parcela de culpa na criação dos influenciadores. Coloque a mão na consciência para entender o seu papel neste jogo. E, por favor, não dissemine o ódio. Não vai ajudar.

 

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