25 de Janeiro de 2017
Em exatos 50 dias darei a volta ao mundo. Serão 260 dias, 37 semanas e nove meses de desconhecido. O que é maluco, já que, pela primeira vez, prevejo o que vai se passar em um ano inteiro da minha história. Ou seja, por mais surpreendente que 2017 possa se apresentar, ele já está escrito. Começo por Cuba. Sigo para Nova York, minha cidade-mãe. Passo três meses na Europa. Desço para um mês na África. Subo para um trimestre na Ásia. Encerro a jornada com um mês na Oceania. Meu destino já está traçado.
Sim, estarei sozinha. Com o peito aberto para quem quiser me encontrar, irei apresentando meu roteiro - que será decidido conforme a andança e apontado nas minhas redes sociais e no site – para que possa me bater com os amigos em alguma esquina deste planeta. Saio por essas bandas no dia 15 de março, justo quando o Ida e Volta completa nove meses. Emblemático. Sintomático. Sinto que esse período serviu como uma gestação do projeto e da Fernanda que gostaria de ser daqui pra frente. Uma pessoa que lida mais com palavras e menos com imagem. Que entrega mais do que recebe. O objetivo é vasculhar cada canto deste mundão para buscá-la.
Por mais que você venha com exclamação no final da frase para me afirmar o já conhecido – que este é o sonho de quase 80% da humanidade –, confesso a existência de uma certa melancolia na minha decisão. Abro minha alma aqui para segredar que optar por colocar uma mochila com roupas insuficientes nas costas, recolher uma porção de guias e mapas e não saber por onde se vai morar nos próximos 260 dias no exato ano em que se completa três décadas de vida não é tão confortável assim. Mesmo para quem carrega o hábito de viajar na veia. Mas, apresentou-se como uma solução (das melhores, óbvio).
Há alguns meses percebi que sou diferente. Estou caminhando na direção contrária. Enquanto minhas amigas mais próximas estão casando, tendo filhos e resolvendo seguir plano de carreira nas empresas, estou recomeçando. Não sei nem bem o que vou comer na próxima refeição, prefiro lembrar com saudades da omelete que estava tão boa no café da manhã. O futuro me parece ilusório. O que me transformou foi o que vivi. Gosto do cheiro do livro antigo, do som da vitrola e de remexer na memória para encontrar inspiração.
Só que a pressão do presente vem me atormentando recentemente. Por isso, resolvi deixar para trás todas as minhas certezas, que incluem o colo da mãe, a proteção do pai, o ombro do mano, a cafungada da minha cachorrinha, o crescer da minha afilhada, o dinheiro que bate na conta a cada mês, o sofá rosa, a emoção de madrinha de casamento de uma amiga, o feijão com arroz, as dezenas de convite, o abraço dos amigos, as sessões de terapia com a Beatriz e encarar meus devaneios. Eu e eles estaremos grudados na trilha. E que tenhamos um final feliz.
No más, estou indo embora, baby. E pego não só a licença poética do Zé, mas do Cartola para finalizar: “deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar rir pra não chorar. Quero assistir ao sol nascer, ver as águas dos rios correr, ouvir os pássaros cantar, eu quero nascer, quero viver. Se alguém por mim perguntar, diga que eu só vou voltar quando me encontrar”.
** Este post tem agradecimento especial aos meus pais e ao meu irmão, que me apoiaram quando decidi quebrar meu cofrinho para essa loucurada, e ao Ron Mizrahi, amigo que me inspirou a colocar o pé na estrada.
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