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    Paris: a cidade que escolhi para sonhar

    10 de Abril de 2017

    Dia desses, ao visitar um amigo paulista que tem uma cobertura no Rio, em frente ao mar, com uma vista da Barra de tirar o fôlego, exclamei: Nossa! Por que tu não vens morar aqui? (O Gabriel tem um trabalho e uma condição que poderiam lhe proporcionar isto). Meio debochado, ele respondeu: Não sabe? O paraíso não é para morar, é para visitar – e virou a garrafa longneck para mais um gole da cerveja estupidamente gelada.

    Aquilo bateu. Por que fez sentido, óbvio. Quantas pessoas conheço que vivem no Rio e chegam a passar meses sem arrastar os chinelos na areia. Creem que isto seja bem normal, aliás. E acham graça do povo de fora que chega desesperado para se jogar no mar e garantir um biscoito Globo com chá gelado à beira. Visitas são rápidas, intensas, precisam de sol, jogam contra o tempo.

    Quando em Paris, um pouco triste por ter acabado de se despedir dos meus pais, meu coração se encheu. Era fim do dia, fazia um frio até agradável e saí para uma caminhada e um café no Place Vendome. Enquanto olhava a vida passar pela janela do bistrô, concluí: Moraria aqui. Talvez, este seja o único lugar que eu toparia passar a eternidade. Foi uma espécie de certeza que me cutucou naquele momento.

    Passaram-se 10 dias, eu vivendo o sonho parisiense - ioga nos jardins do Louvre, croissants matinais, moda natural, sem exageros e pessoas lendo livros de verdade no metrô -, encontro uma amiga francesa para almoçar. Claudine. Como uma legítima local, ela apareceu em seu blazer azul-marinho, contou-me sobre as obras no seu apartamento no Marais, levou-me para experimentar o melhor Paris-Brest da cidade e para passear na região de BeauBourg. Foi quando parou em frente ao Centre Pompidou e gargalhou: isso não é horrível? Será que esperaram esta obra fica pronta para se dar conta que estava ruim? Sim, a casa é dela, está no direito da zombaria. Mas, confesso nunca ter me dado a chance de observar por este lado arquitetônico.

    Conversa vai, conversa vem e, Claudine, que já passou também por experiências nos EUA, na Austrália e em Tóquio, solta: “não quero passar o resto da minha vida aqui”. Quase me engasgo no Kir. Ela segue o discurso. Eu peço para voltar o disco. Como assim? Por quê? Por que em sã consciência? Desenha, por favor. Ela foi sucinta no argumento: alegou algo sobre a segurança, mas ressaltou que o problema são as pessoas. Não são gentis. Não gostam de dar informação, empurram no metrô, não fazem questão de lhe entrosar ou procurar amizades. Finalizou: sabe o que é pior? Não importa o dia ou a hora, elas parecem estar sempre tristes.Tive que concordar. Ela estava certa.

    De certa forma, me senti um pouco como no filme Meia-Noite em Paris. A cidade tema é só uma coincidência. A referência é ao fato de que, na trama de Woody Allen, o personagem interpretado por Owen Wilson consegue voltar ao passado. Insatisfeito com o momento em que vive, ele passa a buscar os anos 1920 e confraternizar com os escritores e ícones que admira. Isto sim era uma época para se estar vivo, vibra. No entanto, qual a surpresa do protagonista ao descobrir que as pessoas que o encantam também estão inconformadas com a época que marcam na história? Bom mesmo seria voltar ainda mais no tempo.

    Seguimos a caminhada e um avião risca o céu. Deixa aquele rastro branco rasgando o azul. Convido a parisienne a espiar: Acho tão lindo como o céu é facilmente desenhado aqui! Ela fica surpresa: vocês não têm isso? Entrego: Não como aqui. Ela sorri: talvez, seja por conta dos prédios altos e da poluição. Verdade. E reconheço que a rotina tem a força de transformar a beleza em banalidade e ofuscar o detalhe. Não abandonei completamente a ideia de morar em Paris um dia. Mas temi pelo meu paraíso. Talvez, ainda seja melhor manter a frequência de visitas.

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